Vou começar compartilhando com vocês esse poema, o nome dele é "A semente" e foi escrito a um tempinho atrás, um tempo um pouco sombrio, quando a mágoa ainda fazia sombra sobre mim e arrancava minha felicidade. Hoje posso dizer que estou curado, mas ainda sofrendo com uns espinhos, no entanto aprendi nesse ano de minha vida carcomido por essa sementinha que amizades são mais preciosas do que tudo e que nunca devemos ficar lamentando perdas que na verdade é nossa vida eliminando o que pode nos prejudicar.
Essa poesia me marca, como muitas outras marcas em minha vida, mas ela lembra um tempo que eu nunca mais quero voltar.
Eu a fiz para um sarau, era um tema que invadia meu coração e resolvi escrever, meio que desafiando quem conseguisse entender o que eu realmente queria dizer. Alguns poucos que sempre estavam próximos de mim sabiam quem realmente era a sementinha e entendem bem essa estorinha...
A semente
Um dia quis ter um jardim em minha vida,
Um jardim onde cultivasse amizades olorosas
Para dar vida às minhas terras.
Apanhei sementes de flores
E entre tantas espécies
Selecionei a semente de uma rosa,
Cuja corola cintila madrepérolas,
De olor doce, de álacre feitio.
A essa rosa reservei um lugar especial
No centro de todo horto,
A fim de todos experimentarem
O fausto de sua graça.
Preparei o canteiro, capinei, arranquei as ervas
E com as mãos em cuia escavei um buraco
Onde deitei a delicada semente
Posta com muito cuidado.
Com o indicador imergi no solo
O que haverá de ser a coisa mais linda
Que alguém possa imaginar
E a vesti sob um punhado de terra.
Todo dia, em visita ao jardim,
O aguava com sonhos cheios de cores
E nutria com abraços e sorrisos.
Ao canteiro onde estava a rosa
Dedicava especial atenção:
A medida de todas as coisas era sem fim;
Com toda visão que tive a adubei
E, durante a jornada do sol através do céu,
O suor do rude serviço lhe irrigou o solo
E as lágrimas em longas vigílias
Foram as chuvas em noites difíceis,
Noites velando, com os olhos pesados de sono, rasos d’água,
Aquela nesga de chão,
Que eu guardava como se fosse minha própria alma.
Mas foi tudo em vão
Nenhum ramo saiu da terra
Para beber da branca luz do sol.
Sequer um caule verdejante
Atravessou o ar a provar sua existência.
As outras flores já espalharam suas ramas,
Já estão quase nascendo...
A rosa ainda não veio à luz.
Apreensivo, cavei a terra e procurei a semente;
Sua aparência continuava inalterada:
Sem indícios de vida,
Nenhuma raiz rompeu sua casca.
Então por que ela não nasceu?
- Foi o solo?
A terra não sufocou seu ânimo de viver,
A terra era fecunda, água sobejou.
- Zelo Faltou?
Não, meu coração não me repreende,
Todas as gotas de lágrimas verti sobre o canteiro,
Tudo o que pude fazer foi feito.
Somente não pude realizar
O que somente o Espírito que dá vida pode fazer:
- torná-la viva.
Rosa-que-nunca-existiu, ouso te perguntar:
Quando será seu dia natalício?
Quando será o dia que a verei medrar
Sobre todo jardim
E presentear com alegria todos os que passam?
Mas rosas não falam,
E se falassem, permaneceriam mudas
Para não responder minhas questões.
Vê-la assim inerte
E tão indiferente às minhas preocupações
É ver espinhos nascendo para me sangrar.
Contudo, se nem espinhos deste,
O que me faz sangrar é meu próprio coração,
Estúpido auto-flagelador!
Enquanto lastimava pela semente sem vida,
Um aroma multicolorido penetrava minhas narinas.
Não, não era a semente que de súbito nasceu,
Mas havia centrado tanto meus olhos àquele anteprojeto de rosa
Que não percebi a miríade de flores ao redor.
Até as sementes jogadas nas pedras
Cresceram e suas raízes trincaram as pedras,
Outras nasceram no asfalto
E ainda outras enraizaram de uma forma
Que nunca mais poderão ser arrancadas.
As flores nas pedras e no asfalto decidiram nascer
Nada as impediriam de ter vida, somente elas,
Por isso irromperam quaisquer obstáculos.
Pois o grão só daria rosas
Se um dia quisesse morrer para ser uma.
Mas o que importa é que fiz de tudo
E sei que posso distribuir todo cuidado
Entre tantas flores.
Pois amizade é isso:
É plantar – e esperar crescerem,
Semear corações, esperançoso,
De que as plantas queiram viver.
Um comentário:
Nossa Cado! o.Ô
Fico até sem palavras, nem sei como dizer,..são LINDAS suas poesias!
Você escreve muuuio bem! ;)
Parabéns mesmo, você merece!
BeiJoO!
;**
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