sábado, janeiro 15, 2005

Tráfego

Redes sociais são uma benção (por um lado) e maldição (por outro), nelas você encontra muita gente, muita gente mesmo (e isso é muito bom) mas essas redes de relacionamentos nos fazem muito perto e concomitantemente muito longe. Muito perto do indivíduo, mas muito, muito longe geograficamente das pessoas.
Escrevi esse poema para uma garota que conheci numa dessas redes sociais e que de vez em quando, quando o trabalho dela deixa, ilumina e enche de graça minhas tardes no messenger. Ela é muito cativante, divertida e apaixonante, gosta de tudo e principalmente de ser feliz. É uma das poucas pessoas que gostas de coisas tão simples como passeio no parque, piqueniques e coisas assim que a maioria evita e diz que é chato.
Bem, ela é muito especial, uma amiga, mas como tudo o que é bom tem um porém, ela mora onde a distância é muita pra mim. Não dá pra fazer uma visitinha depois do trabalho dela e perguntar como foi o dia, não dá conversar um pouquinho e levar pra tomar um sorvete ou um suco, não dá pra fazer muita coisa que eu queria, só escrever, e por isso mesmo escrevi um poeminha, não está lá essas coisas (como todo poema meu), mas tem um pouco do meu coração, que quer ser ouvido.
Passei um bom tempo pra escrevê-lo, faltou inspiração (de minha parte e ela não tinha mais aparecido) e nessa última semana não consegui terminar... na verdade coloquei um final que ainda não sei se será esse mesmo, mas é esse mesmo que você vai ler:

Tráfego

Dentro do computador: um mundo
Um mar de lugares, de possibilidades
Domado por um imenso navio,
Esse cargueiro repleto de sonhos,
Imagens e entretenimento.
Foi nesse mundo que te encontrei.

Esse barco vai e volta
Levando embora a saudade
De alguém nunca abraçado ou beijado
E deixando cá comigo o desejo
De sentir tuas ricas madeixas entrelaçarem em meus dedos,
De sentir teu olor impresso em minhas narinas
E juntar os pontos cardeais em um só lugar,
Anulando a extensa distância entre o Norte e o Sul.

Distâncias deixaram de ser dimensões físicas
Para a cada dia encurtar mais e mais
Através dessas quilométricas veias de cobre que cobrem todo o país
De bit em bit,
De píxel em píxel
Projetando sua imagem incompleta
E ao mesmo tempo tão verídica na minha mente e no coração.

Esse cargueiro, por maior que seja, transporta emoções?
Até então é incapaz de transportar um afago gostoso
Ou a sensação de um abraço apertado.
Por isso às mãos que não te posso afagar
Roço levemente um digitar carinhoso no teclado.
Meus olhos em cujos teus olhos não posso enlaçar admirado
Fitam tuas palavras e emoticons
E ficam à espera do teu nome saltar numa janelinha pop-up
Para me dar o prazer de uma breve conversa
Na expectativa de um dia ter uma conversa no zoo, piquenique no parque,
Uma conversa saborosa regada a muitos sorrisos,
À luz que teu rosto doa benevolente ao Sol;
Conversa regada a saudade, de cujo óbito se escreve com um beijo na face,
Transportando tantos dias de demora
E carinho cujos nervos do tato acumularam.

Enquanto isso, fico só imaginando,
Como se imagina o sabor de uma fruta exótica.
E esperando um dia,
Esperando e planejando
Para que a espera se torne o agora,
Para que o sonho coloque seus pés no chão
E um momento, por mínimo que seja, se torne uma eternidade
Gravado em nossa amizade.

Enquanto esse devaneio continuar sendo devaneio,
Diariamente meu barquinho vai até teu porto
Buscar um pouco de ti,
Um pouco muito pouco,
Um pouco que não preenche, entanto distrai a saudade
Confesso que com um certo ciúme de seu silêncio
Que não posso incitar um som.
Entanto nesse tráfico te espero
Em silêncio, pacientemente,
Para fazer nosso escambo

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