segunda-feira, março 20, 2006

Patty

Seu nome? Independe.
Ousa alcunhar-se de Patty.
Se quiser, dê-lhe um nome qualquer
A fim de adquirir ela personalidade
Sabendo-se faltar nesta alguma.

Patty é mais que uma,
É certo que conheces uma igualzinha à minha,
Pois elas teimam em existir na maioria dos círculos sociais
E infestam shoppings, praias, baladas,
Inclusive o mundo virtual.
Ela necessita estar sempre à mostra.

Bonitinha, bonequinha, parece uma criança.
Seu dom de ser bela serviu para inchá-la de orgulho.
Ela é muito linda, confesso,
Mas ela aprendeu que vale mais sua casca.
Por isso enche-se de tudo que a faça cintilar.
De fato os adornos ressaltam seus ricos contornos.

Minha propaganda – meu querido ofício
Tornou-se seu vício
E a tem ensinado muito.
Levi’s, M. Officer, Colcci, Operarock
Le Postiche, Movimento, Motorola
Amanhã oferecerão novidades
Ainda mais novas que as de hoje,
Fadadas ao obsoleto.

Na religião do consumismo,
Ela é devota a tudo que as novelas,
A Mtv, cinema e as vitrines ofertam.

O vazio a satisfaz, essa é a verdade.
E quanto mais vazio obtém,
Mais vazio deseja para preenchê-la.

Infelizmente dinheiro é muito pouco
Para comprar uma alma.
A propósito, esta já foi vendida
Para comprar aquela vã segurança qualquer
Que estava em liquidação nas vitrines.

Sei, contudo, que dentro dela,
Num lugarzinho escondido,
Empoeirado por tanto descaso
Bate um coraçãozinho, miúdo e frio.

Quiseram lhe dar um amor sincero,
Mas ela os pisou, rejeitando como algo vulgar.
Em suas infantilidades,
Corações esmigalhados acumularam sobre seus pés,
Desprezados por seu olhar altivo
E sua interminável lista de exigências tolas.

Aquele moço bonito ao seu lado,
Bem alinhado, com uma boa conta no banco
Diz que a ama.
Ele a exibe a todos, qual um troféu.
Um troféu brilhante e belo,
Cheio de vácuo.

Para ele, Patty tem o valor de tudo o que ela comprou,
Sim, ela não vale mais que um objeto,
Cheio de caprichos, e um dia ele se enjoa dela
Para trocar por um outro modelo mais novo
Ou aquela outra que estava em promoção.

Coitadinha de Patty
Seu coraçãozinho descartável já viveu muitos finais infelizes.
Enquanto tentava viver contos de fada.

Pior, daqui a pouco os anos saquearão sua beleza
Que as plásticas não conseguirão repôr.
Mesmo as pinturas mais resistentes
Descascam com o tempo.

Obsoleta, sua casca estará apodrecendo
E no fim ela valerá tanto quanto dentro,
Será tão descartável como os produtos que ela compra.
Como a moda, sazonalmente trocada por outra.
E a sua estação já terá passado faz tempo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tadinha da patty...
precisa descobrir com urgênica seu interior... caso contra´rio pode poder de vez o caminho de volta
e pensar que a vida se tornou fria, ingrata, vazia...