sábado, maio 05, 2007

Naquele pedaço de chão (revisitando o jardim)

Naquele pedaço de chão
colhia-se solidão.
Nunca se viu beleza alguma dele brotar,
nele foram postas sementes de flores
de diversas formas, cores e olores;
nada (repetidamente) sucedeu.

Algumas sementes sequer abriram,
mantiveram presas dentro de si mesmas;
outras chegaram a sulcar a terra ao encontro do sol,
mas de complicadas e briosas,
insistiram em se deixar morrer.

Também confesso meu pecado
de umas poucas haver arrancado
por não serem do meu agrado.

Por sucessivas frustrações
deitei meu rosto e chorei,
chorei dores equívocas, de perdas e lutos.

Decepcionado,
decretei esta terra morta,
dedicada ao oblívio.

Sem nenhuma previsão,
num assomo uma flor rompeu o solo.
De aspecto metalizado
garantindo sua existência indelével.

Não recordo de havê-la semeado.
Sequer é catalogável, é rosa incomum,
sem o aspecto efêmero das outras,
sem exigir do solo mais que o necessário.
É uma flor, e forte por ser uma flor,
por desejar sê-la.

Sua fragrância conquistou todo o jardim,
seu brilho banhou tudo de luz,
delicadamente a flor dominava a completitude.

Neste fato aprendi mais um segredo.
As rosas mais belas nascem do acaso,
nem sempre conseguimos semeá-las,
nascem quando menos esperamos
a nos fazer surpresa.

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