sábado, março 15, 2014

Depois da tormenta

Os meses foram terapêuticos.
Hoje falo do mal como quem provou a cura.
Juntei os cacos e tudo o que sobrou
para refazer.
Preenchi sua parte em mim, comigo mesmo.
Sem metades, sou eu completo.

Estou aqui. O mesmo de sempre,
uma árvore depois de uma tormenta.
Alma amarrotada, mas ainda de pé.
Foi preciso erguer muros para evitar mais estragos
Terreno intoxicado, deserto, esvaziado, 
feito Chernobyl.

Continuam as coincidências do amor:
Nosso Cazuza nunca mais tocou.
Ele voltou ao timbre de sempre,
não mais a sua voz,
quando a gente reparava da varanda o canavial estrelado
enquanto você, em sua névoa, 
arriscava aquela canção de sempre.
Aquela outra, do Roberto,
era tão poética e gostosa, 
dizia tanto de nós,
no fim, é só uma música esquecida a letra.

Nosso seriado favorito, que ríamos de nós mesmos,
Ria dos seus pantins e do seu discordar.
Nem assisto mais.
O seu lugar no sofá, guardado,
Agora outras ocupam, sem me importar.

Nossas conversas tarde da noite,
os risos, quantos risos!
Os momentos perfeitos, 
lembranças embora manchadas,
inevitavelmente continuarão.
As recolhi depois do estrago,
Pouquíssimas ficaram.
Não as espero reviver,
foi outra época, ficou para trás,
junto com seus problemas, seus fingimentos
junto com os eu-te-amos e outras mentiras.

Na estrada da vida, 
deixamos os outros nos trevos do caminho. 
Seguimos direto, em despedidas e encontros,
Cumprimentos e desencontros.
Você ficou no meio do caminho,
tive que te deixar ir, 
Seu destino é onde jamais almejo estar.

Meu futuro? Vejo o sol adiante.
A atribulada noite passou,
Hoje é madrugada, é esperança.

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